domingo, 29 de junho de 2008

inquietação

"a arte não é um estado da alma (no sentido de algum momento extraordinário e imprevisível de inspiração),nem um estado do homem (no sentido de uma profissão ou função social).a arte é um amadurecimento,uma evolução,uma ascensão que nos torna capazes de emergir da escuridão para uma luz fantástica"
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jerzy grotowski,diretor polonês

às vezes eu me pergunto se hoje em dia se o teatro (a arte)é necessário (a),se não é só a mágica do entretenimento que vale.
para nós,que fazemos (?)arte,ela tem que ser necessária,para que não nos sintamos tão inúteis.mas e aí?atualmente você paga os olhos da cara por um ingresso do teatro,do cinema,por um livro,para ser "cult",enfim.essa coisa de ficar à deriva,de se arriscar e ir fazer teatro é,para mim,muito boa,mas é também um fardo.esporadicamente penso:"porra,por que eu não fiz algo em que pudesse procurar um emprego fixo?".mas aí eu lembro que eu não viveria bem numa mesa de escritório,sem quase ver a luz do dia e que "a play is a play",como se dizia na época elizabetana (na verdade não sei a época,mas quis parecer sábia).
se dar ao trabalho de enfrentar filas homéricas só pra ver a encenação do peter brook (caralho!não consegui comprar)...por quê?por um lado foi bom ver isso acontecer (os ingressos acabaram em pouquíssimo tempo)pra ver que não são só os ingressos pra ver a madonna (nada contra..aliás,absolutamente nada contra madonna-amo!)que são procurados.
nesse mundo cada vez mais ateu,a arte quase não é mais justificada porque não é mais o "religare"do homem...ou tem que ser?
o teatro,essa dupla realidade,mesmo colocando algo para se pensar sobre o cotidiano já pode abalar as estruturas desse mundo enfeitiçado e unilateral.explico:para mim,o teatro é revolucionário não so sentido panfletário do termo,mas é se proporciona um encontro sincero entre as pessoas (por isso,mais uma vez dou bastante credibilidade a grotowski quando ele defendia que o teatro é,basicamente,o encontro entre seres-ator,espectador-em que ambos saem "afetados",por assim dizer).é fatual e físico,uma vez que os hormônios,as células não têm que sair imunes desse processo.esse encontro verdadeiro nada tem a ver com o vaudeville atual e chulo,quer dizer,com um simples entretenimento com humor pastelãovazio que nada tem a dizer,por exemplo.tem a ver com o encontro de pessoas abertas e desarmadas que,no caso,iriam ver algo de humor mas que é corrosivo,ácido,que tem algo por trás e não é só o riso pelo riso.
cercados/cerceados apenas pela televisão,pelos filmes de hollywood,uma outra perspectiva do mundo-a arte-se faz necessária sim não porque a televisão em si seja ruim (é um meio maravilhoso de comunicação,mas subaproveitado ao máximo)nem que os filmes de hollywood sejam nocivos,mas há de se ter a noção de que existe um outro lado.
com a grande inversão que consiste em louvar o trabalho,o labor (esta palavra vem de "sofrimento"),o produto e acúmulo de capitais em vez de prestigiar os artistas e filósofos (que são a escória e vagabundos atuais),um retorno ao que realmente importa,que é se perguntar sobre esse universo maluco,é fundamental.a arte está aí para nos expressar,para nos encontrar.
porque,no fundo,todos estamos à deriva e correndo riscos.

3 comentários:

Prince of Angels disse...

somos, então a escória..
porém... temos vida... e acreditamos nas proprias verdades

Sandrinha disse...

Inquietação?

Lembrei de você. Motivo?

O Zeca Baleiro vai tocar no festival de Inverno de Paranapiacaba. ^_^

Quer que eu pegue um autógrafo para você? (não prometo trazê-lo, mas sabe como é...rs).

Beijos e se cuida!

Nando Damázio disse...

Apesar de tudo isso, não vivo sem isso !!